Era como o meio do caminho entre uma coisa e outra, ele talvez pensou, porque havia ali algo que o fazia pensar, vestindo as roupas do irmão e percebendo que não lhe cabiam mais como antes, que ele não cabia mais ali como antes. Separação ou união para sempre — a calça até ficava boa, mas a blusa lhe caía estranho, solta demais nos braços, e ele se sentia todo meio destrambelhado. Havia emagrecido nesses últimos meses, notou, ou era Andrei que estava se tornando uma coisa diferente, mais forte e bem-polida, ou (mais provavelmente) ambas coisas ao mesmo tempo. Transformações por todas as partes. Um sentimento sem nome nem cor, esparso. Olhou-se no espelho do quarto e assistiu o rosto tomar forma de careta, voltou para sala e assistiu Andrei rir enquanto o assistia de volta.

Andrei: agora, pouco parecia forte ou bem-polido, ele inteiro meio pálido, o corpo esticado no sofá, e Peter se perguntava se se sentia, ele também, como um estranho nas próprias roupas. União ou separação para sempre, transformações por todas partes: embora risse como sempre riu, Peter sentia algo nele enfraquecido (enfraquecendo-se? Não, não era assim), o torso (e principalmente o torso, mas também:) as mãos e o rosto cobertos de machucados e bandagens, aquele cheiro ruim de doença, Andrei deitado, assistindo-o de baixo, erguendo a cabeça. Passaria; ainda assim, era tudo meio ridículo.

Fazia um bom tempo desde a última vez que Andrei apanhou feio assim, mas ele havia sido pego de surpresa, os números não estavam do seu lado (ele sozinho contra o quê? Havia narrado incerto, deviam ter sido uns quatro, cinco, quem sabe seis), e mesmo assim ele também havia machucado feio aqueles que vieram. Só não tão feio quanto machucaram a ele. Sentia-se, no melhor dos casos, como um adolescente de novo — havia algo de eletrizante sobre tudo isso. O médico disse que se recuperaria em pelo menos um mês — Andrei estava certo que estaria bem em uma semana. A princípio, nem isso admitiu, e só não saiu para a rua (voltou para a rua, alguma específica rua, atrás daqueles específicos caras, daquelas específicas caras) por causa da infecção nojenta que acabou florescendo ali, de repente febre e a ânsia e os inchaços, não conseguia andar ou se mexer demais sem que doesse muito, e daí Peter já havia chamado o doutor, um amigo da família, e ele já estava prescrevendo remédios, mandando que trocassem as bandagens uma vez por dia, que descansasse por pelo menos um mês. E então o dia do encontro já havia chegado.

Anunciado semanas antes como se fosse história ou mentira, mas que o tempo solidificou e transformou em verdade, em plano, em data: o encontro, segundo, primeiro, último, quem sabe, cheio de um certo ar de importância, bem como tudo mais que Andrei viu sair da boca daquela mulher.

Haviam se conhecido em uma reunião que Andrei quase que invadiu, por assim dizer, sabe como é, velho amigo de um velho amigo do anfitrião, atraído pela música que tocavam, pelos queijos ou pelo álcool que serviam, ou talvez mesmo pela presença — uma aura de segredo e magnetismo, como se fosse um feitiço — da tal mulher, ainda que fosse então estranha, apenas mais uma no meio de centenas — um encanto que existia além-do-tempo, além-do-espaço. As apresentações todas muito rápidas, quase insignificantes em comparação ao que veio depois. Conversaram sobre arte e música e teatro, sobre viagens que Andrei fizera já há muitos anos, (era uma mulher muito viajada, e contou ela também sobre suas viagens, para dentro e para fora do país, do continente — e embora nascida na Capital, Andrei tem quase certeza que a ouviu dizer que nasceu e cresceu da Capital, nascida e crescida na Capital como ele, ela falava daquele jeito tão luminar que de repente ele que se sentia um estranho na própria cidade, como se por nunca antes tê-la conhecido ou encontrado em lugar algum — ela: a mulher —, de repente descobrisse que nunca a havia conhecido de verdade — ela: a cidade —, um mundo inteiro se abrindo diante de si, em volta, debaixo de si, ou melhor: expandindo-se, a dilatação do espaço, entre dois pontos infinitos outros, multiplicando-se eternamente, etc.), e, brevemente, conversaram sobre arquitetura. Poderiam ter conversado sobre qualquer outra coisa, porém — ou não conversado sobre nada, estranhos se encarando de longe — e o efeito teria sido o mesmo, Andrei pensava. Algo difícil de explicar. Mas então a noite já estava acabando, tal qual os queijos e os vinhos, e a mulher tinha sua atenção disputada por centenas, milhares de homens, de rapazes e de mulheres, que se aproximavam dela com um certo anseio e com um certo medo, como se fosse uma rainha-regente, imperatriz de terras muito distantes, para além do mar ou além do céu, e os homens e os rapazes e as mulheres todos prontos para partir, adeus adeus adeus, mas no adeus pediam muito respeitosos por mais algumas palavras, e de repente Andrei a havia perdido para a multidão. A última coisa que havia dito a ele: o convite. Conversemos mais em breve — o encontro. Uma data e um local. E uma certa urgência, pois (ela havia dito a ele, Andrei havia dito a Peter) estava para passar a próxima temporada longe, disse o nome de uma cidade que ele não conhecia, mas ainda tinham muito para conversar, ela havia dito, interessada pelo caminho que a conversa estava tomando, um jardim vivo e glacial, uma ponte que dançava, escadas que miravam o Sol, mas ia se perdendo entre ombros e cabeças, e assim se desencontraram de vez.

Apenas quando narrou o acontecimento para Peter que a mulher começou a tomar forma. O cabelo muito negro, solto sobre os ombros brancos, os olhos austeros e afiados que em si prendiam raios, o longo vestido púrpura, adornado com constelações de prata, gigante de riqueza e magnificência perto do jovem arquiteto que era — as mesmas quatros camisas de botão, recosturadas onde ocasionalmente rasgavam; estudante e quase sempre sem trabalho; o pequeno apartamento que dividia com o irmão, longe de todos aqueles bairros brilhantes. Chamava-se Nina e (mas isso ele apenas descobriu mais tarde, conversando com colegas que calhavam de conhecê-la; Peter fez uma cara engraçada quando ouviu) estava para se casar no final do ano seguinte. Nina, noiva, rainha-imperatriz, bruxa feiticeira, mas que com ele ainda tinha muito o que conversar; um endereço que poderia ser restaurante, poderia ser café, poderia ser a própria casa, e nos primeiros momentos ele se deixou imaginar: palácio babilônico, uma torre saída de pinturas fantásticas, impressionistas surrealistas abstratas, e ele ainda o mesmo estudante comum, jovem e ainda sem trabalho. Achou um dinheiro que tinha guardado e mandou que lhe cosessem uma calça nova. E, nesses primeiros momentos de imaginação e planejamento, foi feliz.

Mas felicidade nenhuma o tiraria da própria vida, da rotina e do caráter. Irreverente à paixão que sentia (porque era mesmo paixão, embora não carnal, ou além-carnal, tão carnal que o desejo borbulhava e fervia, vaporizava-se, transformava-se em alguma outra coisa), seus dias continuaram comuns; as aulas na universidade de dia, as brigas de rua de noite — não é como se propositalmente as procurasse, mas de um jeito ou de outro era ali que as coisas sempre acabavam. Talvez tomado por essa paixão, talvez vítima de um azar terrível, acabou se perdendo entre uma coisa outra; se meteu com pessoas que não devia e de repente percebeu-as várias, e de repente percebeu-se único, sozinho; ainda assim encarou-as de frente e ergueu os punhos quando a palavra lhe falhou; levou um corte feio e profundo, isso sem falar nas porradas, um corte feio no torso e vários outros menores, mas não por isso mais ou menos bonitos, sangrou muito e por um segundo pensou, delirante com um repentino calor, com uma certa glória martíria, juvenil, boêmia, teatral: irei morrer. Mas foi um pensamento que passou rápido, pois não morria; então levou mais socos, devolveu alguns deles, e não morria; recuperou o fôlego e saiu correndo até despistá-los, como se fosse um idiota (que se foda o martírio, o teatro e a glória), e não morria; subiu as escadas até chegar no apartamento e não morria; e, depois de tanto tempo sem morrer, quando Peter o encontrou, quase esqueceu de mencionar o acontecido.

Veio então o médico, a infecção, os remédios, a febre e a doença — Andrei voltou a pensar no convite.

Não ir seria inadmissível — disse enquanto o irmão o ajudava a lavar os machucados, a tirar e refazer as ataduras. Poderia mandar uma carta, Peter sugeriu, mas isso não garantiria nada, Andrei disse de volta, porque Nina poderia partir antes de ter tempo para lê-la, porque a carta poderia se perder, porque ele nunca foi bom de escrever em primeiro lugar. — Falávamos sobre arquitetura — disse muito urgente, como se estivesse perto de perder algo brilhante e incalculável, mas fugaz; cheio de interesse, sim, e um interesse egoísta, decerto claro ao irmão, interesse egoísta e ardente, egoísta e apaixonado, egoísta e urgente; interesse pois sabia que Nina tinha dinheiro e Nina tinha influência, e Nina era culta e Nina era brilhante, e era importante, conhecia gente importante. — Falávamos sobre arquitetura e eu mal pude contar sobre…

A ideia que lhe veio, então, parecia mais memória do que invenção: como se voltasse à uma adolescência, à uma infância, à qualquer forma de existência que havia vindo antes, e trouxesse de volta, ou tivesse um vislumbre e tentasse trazer de volta, algo que um dia já lhes foi natural, mas que por um motivo ou outro perdeu-se com o tempo. Tratava-se, então (e então é o antes, passado perfeito e perdido, tratou-se), de uma brincadeira; primeiro, imitavam-se, como fazem todas as crianças, mas logo trocavam de papel, de nome e de lugar; para divertir ou escapar de alguma situação, para pôr em prática a memória, ou simplesmente porque assim é natural que as coisas sejam nesses primeiros estágios da vida, do esculpo do eu, argila molhada e grudando. Talvez por isso veio, então (e então é o agora, a pele doída, o enrolar e desenrolar das faixas brancas), também como brincadeira — quando Andrei disse, nem sugestão era, mas uma espécie de piada, e Peter até que riu, mas as palavras foram tomando forma e de repente Andrei estava pedindo de verdade, cheio de uma coisa muito jovem.

Inadmissível seria não ir, disse, então que fosse Peter — que iria não por Andrei, pois isso sugeriria ausência, que significaria descaso, e descaso seria inadmissível — então que fosse Peter, e que Peter fosse Andrei.

— E ela não sabe? Não passou pela sua cabeça mencionar que tinha um irmão gêmeo? — Peter perguntou divertido, havia perguntado, e Andrei respondeu, simplesmente, que não.

— E se ela juntar os pontos no meio do caminho, que assim seja. A revelação a irá divertir e ela com certeza gostará de você.

Assim foi: Peter aceitou a proposta, embora com certa relutância, ou simplesmente sem jeito para a coisa — normalmente, era Andrei quem lhe fazia os favores. Manteve apenas duas exigências: no encontro, não se forçaria a fazer ou dizer qualquer coisa que não pudesse ser naturalmente levado a fazer ou dizer (não se tratava — nunca se tratou— de um jogo de mentiras ou atuação), e, mesmo vestido nas roupas de Andrei, se recusou a cortar o cabelo, que havia decidido deixar crescer fazia pouco mais de dois meses. Assim foi: doente e machucado, Andrei quis beijar-lhe as mãos; disse: está tudo bem, podemos arrumar um chapéu, qualquer coisa pra usar assim, ou você pode sair sem nada mesmo, veja, nem é uma diferença tão grande, poderia ser eu com o cabelo crescendo desde a festa no Sergeyev e agora já estaria mesmo quase do mesmo tamanho — ele também sem jeito nenhum para a coisa.

Chegou, então, o dia — Andrei ainda deitado, ainda doente e ferido, Peter tentando se encaixar em roupas de repente todas meio largas, perguntando-se quando foi que deixaram de servi-lo. No espelho, tentou contorcer o rosto, os olhos e o canto da boca, nas formas que Andrei carregava; ridículo, caíram de volta as feições originais, as linhas duras e retas, pesadas; quando voltou a encontrar o irmão, ouviu no seu riso como se divertia.

— Como se olhasse em um espelho — Andrei disse, embora não fosse bem verdade, igualmente sério e brincando. Ou algo totalmente diferente.

Peter deixou escapar alguma reação — sorriu, talvez, embora a verdade fosse que sentia, pesando no fundo do peito, o nervoso; nas mãos, o suor, mesmo antes de sair de casa. O humor esfriando aos poucos, encizentando-se e endurecendo, embora não quisesse se arrepender ainda. E sem saber bem dizer por quê. Sentou-se ao lado do irmão e pediu uma última vez que lhe explicasse como faria(m).

Levantou-se. O horário, o dia, o encontro, o endereço. Você não precisa ir se não quiser, Andrei disse de repente, por um segundo fora da própria fantasia, uma pausa no jogo, na brincadeira. Peter abriu a porta. Além da janela: um sol fraco no meio do céu, as casas brancas com neve. Quero ir, disse. Pisou para fora. Andrei, disse Peter, como se tivesse algo mais a dizer, mas não tinha. Andrei, disse Andrei. Fechou a porta, desceu as escadas e foi embora. Segurando-se para não rir, os dois.

. . .

Quando retornou, era quase noite e a neve ainda caía. Ainda assim — o sol fraco no outro meio do céu, quase totalmente encoberto —, a casa lhe parecia muito escura, e seus passos eram quietos com propósito.

A silhueta de Andrei — agora, sentava numa cadeira, o corpo inteiro como que apoiado sobre a mesa, bem como lhe foi recomendado que não fizesse; lia o jornal e jogava (Peter percebeu ao se aproximar) algum jogo de carta, algo como paciência, decerto entediado da espera passiva na cama. Contra a luz, Peter mal conseguia ver as faixas que lhe envolviam o torso, ou os músculos das suas costas, que resumia-se inteira em uma única forma, uma única cor, Andrei contra a luz.

— Como foi? — perguntou.

— Bom — Peter respondeu, a cabeça por cima do seu ombro, observando o jornal e o jogo. Os dedos enlaçados atrás das próprias costas. Falava entre pausas longas, como se muito atento ou cansado, e Andrei sentia as palavras vibrarem fraco. — Acho que ela gosta de nós.

— É mesmo?

— É. Disse que quer vir aqui algum dia para ver aqueles rascunhos.

Andrei sorriu, ou sorriram juntos, e tornou a perguntar: — E você?

— Bem. Me dói a garganta. Sua voz me pesa. Pesou o dia todo.

— Me dê-a de volta — disse, pediu, os olhos também nas cartas. Peter quis saber no que pensava. O espaço entre uma coisa e outra, separação ou união para sempre, argila tomando forma. Sedimentando.

. . .

Encontraram Nina poucas vezes depois disso — na casa deles, episódio mais marcante, quando viu e segurou pela primeira as plantas do Corredor Gelado, ela disse com muita seriedade: é lindo. Formados há menos de um ano, construíram-no (um milagre por si só) na primavera seguinte. Foi derrubado no verão.

É algo comum, nas artes, o título que apenas se consuma no final. E era mesmo o final. Não quiseram partir, a princípio — pensaram: dissolve-se rápido, a ira popular, e se fossem resilientes… — mas então começaram a chegar as ameaças, as cartas anônimas (covardes), as acusações, os artigos nos jornais, as condenações… Dissolve-se rápido, a ira popular; mas não era o povo quem haviam ferido. Abrigados no âmago de uma cidade que fazia de tudo para expeli-los, Andrei sonhava com a forca; dizia a si mesmo: se for resiliente… Tornou-se pronto para lutar contra Deus, o Poder e a Lei, a lutar contra homens e lobos (tornou-se pronto para lutar, enfim, como homem e como lobo); foi quando Peter começou a passar as noites também insone, acordando de súbito, de susto, crises de tosse, passos nervosos e sem curso no meio da madrugada, a respiração muito alta, que decidiu que teriam que fazer alguma coisa.

Aos poucos, eram forçados a esquecer — a Capital, os jantares e as festas, os poucos amigos, os antigos projetos, as construções destruídas. Perdidos entre um país e o outro: os livros, as roupas, os rostos e os nomes, até que a bagagem se reduzisse a vergonha e saudade. Pesada ainda assim.

Fugiram para o norte, para o oeste, para o sul. Trabalharam em portos e cozinhas e bares; então tentavam criar coisas, e o mesmo raio atingia o mesmo lugar pela centésima vez. Notícias que corriam mais rápido do que trens. Trovões que quase os tornaram surdos. Cada vez mais desesperados; as acusações cresciam, as penas acumuladas também. Se fossem resilientes… — Mas então tinham que fugir de novo.

Desde pouco mais de dois meses dormiam em um quarto alugado em uma cidade na costa espanhola. Minúsculo: uma cama rangente, uma mesinha toda carcomida e um armário onde pouco guardavam. Andrei dormia no chão, cobertores dobrados e empilhados e ele dobrado em cima, e a cama ele deixava para Peter. Trabalharam na restauração de uma capela — uma coisinha feia de doer — e quase nada receberam. Às vezes, sem aviso nem explicação, Andrei saía de noite e só voltava dias depois, às vezes se deitava por dias, sem mais médicos agora, mas Peter pouco perguntava; quando tinham sorte, voltava e trazia algum dinheiro. Às vezes, Peter passava semanas inteiras sem sair; dizia que era porque nada entendia da língua, mas Andrei sabia que não era verdade, os poucos livros em castelhano que havia comprado empilhados do lado da cama. A maior parte do tempo ele passava lendo, embora às vezes pintasse ou desenhasse alguma coisa; restos de papel (rasgados amassados rasurados) perdidos e encontrados nos cantos entre uma coisa e outra, quadros que dificilmente conseguia vender. Brevemente interessou-se por cartografia e as paredes encheram-se de mapas. Fazia muito calor. O cabelo começava a bater nas costas. Por algum motivo ou outro, quase não conversavam.

Um dia, pela primeira vez desde que partiram da Capital, uma carta chegou.

Quando aconteceu, foi Peter quem a recebeu. Até chegar a noite ficou tomando coragem para abri-la. Sentiu medo e cansaço e raiva, os dedos finos tremendo muito. Uma inicial e um sobrenome que nunca havia visto na vida. Pensou, como tanto já havia ouvido o irmão dizer: nos acharam. Pensou: o que foi que haviam feito dessa vez, o que foi que Andrei fez? Pensou nos sonhos com a forca — pensou nos sonhos e pensou na forca, como se os pesasse em uma balança. Sentado na cama enquanto Andrei dormia no chão, perdidos no meio da Espanha, considerou queimar a carta e transformá-la em segredo. A janela aberta, maresia invadindo o quarto, considerou o mundo que se escondia do outro lado do horizonte; considerou a maresia; considerou a língua; considerou o porto; considerou os mapas. Mas leu.

Nina — que era agora Nina Kaina, casada com um tal Victor Kain (ela contou, muito brevemente, econômica com suas palavras sobre a vida pessoal) — prometia moradia, proteção e trabalho na estepe. Mencionou alma algumas vezes e Peter percebeu que não haviam esquecido de coisa alguma. E não teve que considerar mais nada.